segunda-feira, 22 de outubro de 2012



























podia até cegar depois de vos fazer esta confissão 
por Nuno Leão 
(diretor artístico da Terceira Pessoa – Associação) 

Passados alguns meses após o início do projeto KURT COBAIN em Castelo Branco, sento-me por uns momentos para escrever algumas palavras em forma de confissão. 

Este projeto, cujo nome poderá parecer a alguns demasiado distante, a outros próximo demais, acabou por se tornar uma manifestação independente de um grupo de jovens desta cidade, de uma dupla de criadores que se propuseram a criar um novo movimento de expressão com esta comunidade e de todos aqueles que neste projeto acreditaram e se propuseram a vivê-lo de perto e de forma comprometida. 

Criou-se um Movimento, e isso é a força máxima de expressão do homem enquanto ser social, crítico e criativo na sua forma de estar no mundo. 

Criou-se um Movimento, talvez fruto de um momento crítico que atravessamos enquanto indivíduos, enquanto povo, enquanto comunidade. E, hoje, esse Movimento é a única força que, de mais perto, vejo emergir de toda esta situação atual. A força da expressão de uma comunidade, que junta escreveu o seu manifesto-resposta ao mundo feito ruína, ao tempo feito vestígio e, assim, descobriu o seu espaço alternativo. E, hoje, vejo essa força enquanto último reduto de potência para continuarmos a existir e a fazer o mundo evoluir num outro sentido. Nas margens vão-se desenhando contra-culturas e delas surgirá um novo pensamento, uma nova ação sobre a realidade, que recusa um estado letárgico do pensamento e da ambição do homem. 

Em KURT COBAIN talvez se tenha descoberto uma nova contra-cultura, e isso numa pequena cidade do interior e é isso que considero maravilhoso e me apaixona: ser em Castelo Branco que possa surgir uma nova forma de expressão de uma comunidade emergente, com sede de voz, a lançar-se num esgar de libertação. 

Era já esse o sonho lançado no espetáculo do projeto KURT COBAIN quando se dizia: “Era uma vez um senhor e uma senhora que queriam fazer um espetáculo. Mas este não era um espetáculo qualquer. Diziam eles que queriam inundar o palco de uma pequena cidade do interior de um pequeno país do litoral de um continente velho, com a rebelião que ainda acreditavam existir naquela periferia das periferias. Diziam eles que as periferias somos nós que as definimos, e os centros nós que os escolhemos e os limites... bem...disso é melhor não falarmos neste espetáculo.”. 

E o sonho persegue-se, não se considerando cumprido (até porque há sonhos que serão sempre sonhos!)... mas é condição do homem desejar aquilo que não pode possuir. 

Passados 6 meses, agora que KURT COBAIN descobriu uma fuga, libertando-se da figura que o aprisionava e ganhando rosto de juventude em marcha, queremos trilhar caminho no sentido de continuar a apontar possíveis caminhos de ação desta nova cultura que surge em potência na cidade de Castelo Branco. 

Durante décadas cobriu-se o Teatro com a peneira do facilitismo e do vulgar. Mas ele afigura-se bem mais desafiador e potente. O Teatro, bem como a Arte, podem agora redescobrir o seu lugar nesta comunidade e tornar-se mecanismo de expressão estética e política dos seus intervenientes. É essa a sua força original e a máxima via que nos oferece. 

É por isso que a Terceira Pessoa – Associação lança, pela mão de Ana Gil & Nuno Leão, um novo projeto desta feita dirigido a toda a comunidade da cidade de Castelo Branco. 

Temos um sonho e vocês fazem parte dele. Todos! 

A Terceira Pessoa cumpre-se nos que com ela se cruzam. 

Este sonho deseja-se real e tão maior será quanto aqueles que se juntarem a ele.

1 comentário:

  1. Muitos parabéns Ana e Nuno! Muito bom ler este teu texto pleno de força e de uma ideias claras de teatro. Fabuloso trabalharem com a comunidade, com jovens e no interior de Portugal (gostava muito de ter visto o espectáculo). Um exemplo do caraças de que Portugal precisa como água para a boca.

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